Intro: 2/4 || Bm| Bm| Bm A |D7+|F#m D7+|F#m D7+|F#m Em|
|Bm F#m |Bm F#m | Bm |
Bm
Já anda a gente do mar
A fazer fardos e trouxas
A
Arrombando porões
D7+ Bm E7 (2)
A roubar arcas e caixões
G#m7
E abandonam as mulheres
C#7
Os filhos desamparados
C#m7
Que choram muito assustados
D#7
Sem outra consolação
G#m7
Que uns abraçados com outros
B7 E6
Incham das águas aos poucos
D#7 G#m7
Dos tragos salgados da morte
C#7 C#m7
Imploram a deus outra sorte
D#7
Às arfadas
Aos arrancos
Em prantos
F#m
E às golfadas
C#m7
E uns se afogam de vez
F#7
Deixando-se ir ao fundo
C#m7
E se entregam assim
F#7
Ao sono mais profundo
Am7/9
Outros gritam aos céus
D7
Pela absolvição
Am7/9
E se enforcam depois
D7
Com suas próprias mãos
Em7
Perneando com a morte
Em6
As pernas descarnadas
Em7
Feitas em rachas em lanhos
Em6
E tão estilhaçadas
Am7/9 D7
Que por esta parte em destroços
Dm7 G7
Lhes vão caindo os tutanos dos ossos
Gm7 C7
E sem saberem nadar
C7
Sem a nau
A7
Sem tábua nem pau
F#m7 F#7 Bm
Vai o mundo adornar
A6 Bm
Cai ao mar
A6 F#
Cai ao mar
Daquela assada do barco
Constroem seu salvamento
Amarrou-se a gente ao troço
P´la cintura p´lo pescoço
Indo assim tão carregada
Ferem com facas e lanças
As mulheres as crianças
Que se aferram à jangada
Mas rezam avé-marias
Padre-nossos litanias
P´las almas dos mutilados
Que p´ra ali são abandonados
Às arfadas
Em arrancos
Em prantos
E às golfadas
Cheio vai o batel
E quase a afundar
P´ra alijarem a carga
Botam gente ao mar
Engole uma vez de vinho
E da marmelada um bocado
O pobre de um marinheiro
Mesmo antes de ser lançado
Deixou-se então atirar
Com os braços cruzados
E se ofereceu todo à morte
Tão quieto e calado
E o piloto logo abençoou
Os seus dois filhos
Que ele próprio lançou
E sem saberem nadar
Sem a nau
Sem a tábua nem pau
Vai o mundo a adornar
Cai ao mar
Cai ao mar
Pequena era a tua filha
E não a quiseram salvar
Ficou ao colo da ama
No barco grande a afundar
Suplicas da jangada
Enfim
Ergues teus braços de mãe
Mas não te escuta ninguém
A chusma salva-se assim
Gaspar ximenes
Calado
Não chores alto
Cuidado
Tu chora só no coração
Ou também vais como o teu irmão
Às arfadas
Aos arrancos
Em prantos
E às golfadas
Passam dias a fio
À pura fome e sede
E há quem vá tragando urina
E morra do que bebe
Outros da água salgada
Falecem dos sentidos
Gritando sempre por água
Lançam-se ao mar ressequidos
Vai-se o soldado e o china
Não fica dor nem mágoa
Botou-se estêvão mulato
Com a mesma sede de água
E na tarde daquela aridez
Atirou-se o padre
E o piloto outra vez
E sem saberem nadar
Sem a nau
Sem tábua nem pau
Vai o mundo a adornar
Cai ao mar
Cai ao mar